sexta-feira, novembro 11, 2005

NEW YORK

Mordemos a grande maçã em tons de pecado solto em gargalhadas felizes e quentes como o café do starbucks da esquina entre negros arranha céus, cotovelos em ângulos rectos desenhados em céu azul, amarelos vivos cruzando-se nas ruas apitando latinamente pelo emaranhado do trânsito, a felicidade gritante nas sirenes que inundavam o ar afundando o burburinho constante de vida e agitação nos nossos peitos.
A descoberta do eu diferente, do tu surpreendente, do próximo condutor ou empregado ou transeunte ...negro de brinco e corpo bloco de cimento, asiático desfeito em vénias e sabedoria ancestral, americano típico em chapéu, camisa e botas texanas, casal de smoking e vestido comprido cruzando com rappers de Brooklyn, rock stars, magnatas entrando apressados em limousines, judeus de chapéu e melenas e fitas pendentes dos bolsos...
A subida aos céus em elevadores supersónicos, o som da cidade no ultimo andar como um mar aos nossos pés e o céu ali...à mão de semear... como o teu sorriso.

Os esquilos, as paradas, os gregos e os italianos, os chineses e o Gugganheim, o parque central da eterna mistura que nos agrega, o cachorro na esquina besuntado de molhos, a executiva no banco da esquina, pernas à chinês, comendo de um pequeno pacote com pauzinhos, os sons do metro gasto e sujo, a estação central da confusão ordenada, a imensidão da quinta avenida, e a tua mão na minha, descontraída e pausada, os nossos passos cadenciados cruzando o mundo que se atravessava em quarteirões escorreitos.

O nine eleven no ground zero da desilusão e morte, visto do jardim de inverno que imaginámos em cacos de dor e correrias assustadas.
A pausa na alegria e a incredulidade ao tentar descobrir o perfil transparente das duas torres erguidas naquele espaço vazio, poço de saudades. As mãos apertadas na sabedoria agora ganha... Porque nós foramos duas torres altas de felicidade que se desmoronara sem aviso, esmagando esperanças e certezas que julgávamos vitalícias. O medo. Nada é certo. Hoje, também nós o sabíamos.
Hoje não éramos mais as duas torres invisíveis...éramos antes aquele jardim de inverno cujos vidros se quebraram apenas...e que hoje resplandecia belo outra vez, mais belo, talvez, mais seguro pelas vistorias preocupadas aos seus alicerces. Um jardim de inverno que se resguardava da chuva mas a contemplava, que se protegia do frio mas dele necessitava para ser encantado e que recebia o sol sem cerimónias alimentando as árvores imponentes que nele se erguiam. Um jardim de inverno virado a um caloroso rio...com varanda avistando a memória das torres caídas.

As sinaleiras de luvas brancas e faces negras em fatos tamanho XXL apertados contra seus peitos apitando incessantemente e gerando a confusão mais que a gerindo e nós na esquina perdidos de riso como que assistindo a um filme de woody allen rodado ao vivo.

O jazz em cada esquina de village, o cesto de basquete em cada esquina de harlem, as quinquilharias em cada esquina da chinatown, a little italy dos mafiosos da lei seca, os rockafeller, o trump e a bandeira americana em todo o lado, para onde quer que olhássemos, na ilha das colinas, Manhattan.

E eu querendo chamar um táxi, discutindo disparates contigo sustendo o riso, apenas pelo gozo de imitar a velha cena de arrufo de namorados onde um acaba a discussão metendo-se num táxi sem rumo, querendo apenas desaparecer daquele filme.

As pequenas casas de ar acolhedor em tijolo bege, terracota ou castanhas, de escadas de incêndio perfilando as janelas, passeios milhares de vezes calcorreados pelo sonho americano milhares de vezes desfeito em carrinhos de supermercado empurrados por vadios de unhas sujas pelos cartões que estendidos nos respiros quentes do metro se estendiam.

Os fumos que se desprendiam das tampas das estradas, como sinais brancos e inexplicavelmente nostálgicos. Os nossos passos nocturnos abalados pela passagem sob os nossos pés do metro, chão esburacado em grades na cidade que não nos deixava adormecer pelas horas trocadas e pelo entusiasmo de sermos nós quem a olhava, perdidos e encontrados a sós, a dois, unidos em cumplicidades felizes depois de um voo cansado.

A CIDADE ÉRAMOS NÓS.