domingo, agosto 29, 2004

Desalinho - Inquietude da alma

Estavas desarrumada. Tinhas caixas entulhadas de recordações no teu olhar. E as tuas mãos carregavam tristezas, amachucadas como contas de restaurante onde não saboreaste como querias o sabor da refeição. O pó acumulava-se em cada canto da tua alma, résteas de momentos passados, amargos, doces. Voluntariamente esquecidos sempre que assaltavam à memória.
O desalinho que não te deixava sossegar. A inquietude que te atira para limpezas frenéticas que, invariavelmente, nunca terminas.
Porque o passado se entranha em ti
como a morte se entranha no útero criador da alma.